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Terapeuta de mim mesmo, um forasteiro, estrangeiro e aventureiro da existência que escolheu alguns caminhos e o veículo certo para percorrer estes caminhos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A gênese de mim por mim


Eu não lembro, mas outro dia estava pensando: e se eu lembrasse? E qual o motivo da maioria das pessoas não lembrarem da própria concepção, gestação e nascimento? Será que não é tão importante? Claro que é... Então conjecturei: Qual seria a minha gênese? As perguntas vinham e não iam embora, até que dei um basta e criei a minha criação, me tornei um criador de mim mesmo. Nasci dos sentimentos mais profundos do meu ser.

E tudo começou com:
Era uma vez... Em um dia qualquer no calendário do infinito, voando nas redondezas do universo, sentei em um asteroide para descansar, eu era um anjo, talvez, ou quase isso, sei lá, só sei que voava, deslizava nas alturas, foi que olhei as profundezas do universo, e me saltou um pensamento, um tédio, todos aqueles passeios, toda aquela plenitude, estava me cansando, queria algo mais emocionante, estava tudo tão bem e feliz, tinha que ter um pouco de tristeza, de melancolia, uma certa nostalgia, mas a alegria era imensa e fui me irritando, até que tive a brilhante ideia: vou nascer.

Não foi fácil, tive muitas dúvidas, primeiro onde e depois quem seriam os meus pais.


Voei pelas galáxias, pelas constelações, pelos planetas, já ia me cansando, quando parei perto de uma planeta azul, que fica perto de uma estrela, do alto o planeta azul era lindo, o acaso me fez descer a este planeta e fui ter com os responsáveis, para deixar morar neste planeta.


Eles me alertaram sobre o caos no mundo das pessoas, elas não se entendem, são loucas, vivem correndo, não tem tempo para nada. Fiquei assustado, mas eu era um anjinho teimoso, queria correr o risco, era só por uns tempos, iria sentir saudades dos dias felizes, mas depois de uns anos estaria de volta, satisfeito pela experiência na terra, eu sei que perderia a liberdade de voar. O poeta Fernando Pessoa, que também um dia teve a teimosia de nascer disse: “Tudo vale apena se a alma não é pequena”, a minha não era pequena, e estava disposto a entrar nesta encrenca.


Este lindo planeta era conhecido como Gaya, mas muitos chamavam de Terra, achei estranho, pois do alto via mais água que terra, vai entender este povo. Voei e vim parar em lugar que se chama Brasil, aí começou a confusão, eu estava no planeta terra ou no Brasil? Me disseram que os habitantes se dividiam, se fechavam em fronteiras e até disputavam territórios com os semelhantes, me dissera que existia idiomas diferentes para cada território. Estava ficando complicado, que povo estranho, eu pensei.


Sou teimoso e estava decidido: vou morar no Brasil, pois diziam os entendidos do planeta, que o Brasil é um pais em que as pessoas adoram festas, tem um tal de carnaval que todos param, tudo para, dias de festas, em alguns lugares até um mês, neste carnaval as pessoas ficam dançando, cantando, tem muita gente boa lá no Brasil, o clima é ótimo, não tem terremoto, não tem furacão, não tem vulcão, mas tem péssimos administradores, pois é, nada é perfeito. Tive um grande argumento que iria mudar tudo: vou ser anarquista e nem dar bola para eles, faço a minha parte, e o resto, era o resto. Estava decidido, vou para o Brasil.


Depois de escolhido o planeta, o país que iria morar, e os pais, quem seriam?


Fui atrás de um casal feliz, que tivesse harmonia, foi difícil, quase impossível, mas estava decidido. Deixei de lado a ideia de casal feliz e harmônico, percebi que poderia até deixar de lado a ideia de casal.


Vou nascer, já estava impaciente.

Encontrei um casal cheio de promessas de felicidades, de renovação, estavam apaixonados, tão distantes do mundo, que me comovi e fiquei com eles, eles seriam os meus genitores.


Nasci de um orgasmo, nasci do prazer, do encontro de duas pessoas, de duas vidas para gerar uma nova vida, era o meu começo dentro de um ser, de uma fêmea, de uma mãe, e eu era tão pequeno, uma célula quase invisível, sentia uma alegria diferente da que eu sentia no universo, era um outro universo, um oceano sem fim, fui crescendo e o lugar foi ficando cada dia mais apertado, escutava sons que vinham lá de fora, fazendo um eco, nesta época eu era um dorminhoco, queria dormir, mas era um tal de falar lá fora, sentia mãos na parede de meu habitat, então eu dava chutes, para ver se eles paravam com tanta "falação", desisti e fiquei lá em meu universo, em meu oceano.


Crescia rápido, o lugar cada vez mais apertado, pensei em fazer uma reforma, uma ampliação no cômodo em que eu estava. Tive a brilhante de me virar, que do brilhante virou arrependimento, senti que estava de ponta cabeça e sem me mexer direito, o arrependimento me veio, queria voltar a minha morada no universo, lá nas alturas voando, mas era tarde demais, já estava feito, não tinha volta, entrei em desespero, o medo me veio. Tive que me conformar e até me sentia feliz novamente.


A situação foi mudando novamente, agora era de conforto, de proteção, sentia ondas de calor lá fora, queria ficar mais tempo naquela morada, a vida era tão boa, foi então que veio o sentimento que estava sendo expulso de meu lar, de dentro de minha mãe, foi rápido demais, quando me toquei estava do lado de fora, com frio, com fome, desprotegido, exposto ao mundo que por teimosia queria estar.


Assim começa a minha jornada fora do útero, templo feliz de meu ser, tenho saudades do tempo em que eu era feliz.


Ninguém está satisfeito e fui viver no mundo das pessoas insatisfeitas, no mundo das complicações, mas já é uma outra estória, um dia voltarei às alturas e darei boas risadas da minha vida no planeta de pessoas complicadas, gostei tanto que acabei sendo complicado também.

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